Em busca da Castanha, dos Cogumelos e dos Gambuzinhos no Vale do Bestança
28 de Outubro de 2006
E assim aconteceu mais uma caminhada no Vale do Bestança em busca da castanha, dos cogumelos e já não dos gambuzinos, organizada pela Associação para a Defesa do Vale do Bestança como forma de dar a conhecer o património Cinfanense e potenciar um dia de bonito convívio.
O número de participantes – cerca de uma centena – excedeu as expectativas sendo também todos nós surpreendidos pelo esplêndido dia que nos coube. Um sol tépido, um horizonte límpido e um fim de tarde cálido proporcionaram um ambiente de confraternização e convívio memorável.
De Vila de Muros partimos em direcção às Quedas do Côto, no ribeiro de Enxidrô. Exuberante visão da água a cair de uma cascata com mais de 25 m de altura, surgida de entre a penedia e densa vegetação escoando-se depois nas gargantas escuras do citado curso de água, sempre em grande estridência. Tempo sacro de paragem que este cenário não se vislumbra todos os dias. Depois foi a subida para a devastada aldeia da Portela da Mó, vítima de um incêndio no último Verão que destruiu cinco habitação deixando o lugar ainda mais desolado. Perturbante contraste este entre a beleza da vegetação com vida e o estertor da terra queimada.
Seguimos caminho em direcção a Vila Viçosa. Descansámos nas margens do ribeiro de Enxidrô, a montante da ponte do Grandinho, até porque alguns caminheiros começaram a sentir já algumas dificuldades em progredir, havendo até quem abandonasse aqui a caminhada. Ao chegarmos a Vila Viçosa colhemos maças bravo-de-esmolfo que nos souberam pela vida tão deliciosas eram. Mais uns passos que o caminho faz-se caminhando até uma alargada paragem junto ao ribeiro de Enxidrô ( aqui chamado de Marcelim ) para almoço. Tempo de regeneração de forças.
Depois de atravessarmos Marcelim, seguimos para Mourelos e daqui para o Prado onde procedemos à desmontagem da tenda militar que nos serviu na descida do Bestança. Com a ajuda de todos a tarefa, que se julgava demorada, não demorou mais que quinze minutos.
Enquanto isso os apaniguados da micologia buscaram os cogumelos que cozinharam e assaram na sede da Associação.
A noite ia caindo e já o jantar nos esperava na escola de Vila de Muros: uma magnífica feijoada confeccionado pelo Mestre Joaquim Segadães. O melhor elogio que lhe prestámos é que nada sobrou.
À noite houve tempo ainda para ouvirmos uns acordes pela mão do artista musical Cinfanense, Sr. Albio de Avitoure, que encantou a plateia.
Depois estava prevista a caçada aos gambuzinhos ( sub-espécie de gambuzinos ) mas o grosso dos caminheiros preferiu acompanhar um evento desportivo conhecido dor “ clássico de futebol português ). E, diga-se, o encontro não correu mal até à obtenção do 3º golo Portista… Aí rangeram dentes e fartas lágrimas se soltaram. Mas concedamos apenas ao caso a importância que ele merece.
O certo é que não houve caçada para consternação de umas dezenas de caminheiros que vieram preparados para investirem à noite em demanda dos famigerados animais.
A despedida foi efusiva e calorosa pois que o dia foi muito bem passado e cheio de bons momentos. E como a vida é uma colecção de momentos... valeu a pena.
Aqui ficam algumas opiniões/sugestões a que se seguem fotografias da jornada.
- O Tribunal Europeu do Ambiente decidiu instalar um projecto-piloto em Trancoso com vista à criação de uma “ cidade Biológica “. O projecto do Arquitecto António Cerveira Pinto, assenta na utilização de energias e meios de transporte alternativos e na penalização de todas as indústrias produtoras de C02. O projecto prevê um novo conceito energético e uma clara aposta em desportos e actividades não poluentes, bem como o recurso a meios de transporte “ amigos do ambiente “. Obviamente que apoiamos esta ideia.
- Da aldeia de Marcelim obtém-se uma magnífica e abrangente vista para o Vale do Bestança. Daqui se alcança também o mal que os incêndios vão causando a este vale. Notam-se significativas manchas de devastação vegetativa ficando a paisagem, em certas áreas, como que descarnada. Chamamos a atenção para as vastas áreas queimadas acima do Prado ( margem esquerda ); Monte de São Barnabé ( margem direita ); Costa da Manga e Monte de Marcelim ( margem esquerda ); Monte das Coroas ( Margem direita ). Constatámos ainda que madeireiros sem preocupações ambientais cortam a madeira e deixam ramos e alguns troncos pelas encostas e no leito dos afluentes do Bestança o que, em tempo de cheia, poderá causar graves danos patrimoniais nas levadas e açudes, por exemplo. Acresce a abertura de estradões a esmo e só para servir interesses próprios sem qualquer sujeição a licenciamento municipal.
Com a precipitação a escorrências de terras e cinzas em encostas sem vegetação contribuem para uma mais difícil, senão impossível, regeneração da floresta no Bestança. Urge repovoar e urge obrigar quem corta a madeira a limpar devidamente o solo para que os restos deixados não se tornem combustível no ano a seguir dizimando as pequenas árvores que nascem espontaneamente. Mas urge também uma reflorestação séria e com o empenho das entidades administrativas e da comunidade escolar, em coordenação com os proprietários, para que o Vale do Bestança não perca a verdura que o caracteriza. Este será, quanto a nós, o problema a curto prazo a enfrentar: evitar a propagação de terra desflorestada no Vale do Bestança.
- - Como sugestão de leitura indicamos desta vez o livro “ O Homem de Fogo “, de Francesca Y. Caroutch, da editora Campo das Letras. Trata-se de um romance histórico sobre a extraordinária vida de GIORDANO BRUNO ( 1548-1600 ). “ No Renascimento, um homem de génio, um filósofo, poeta e visionário, ousa desafiar a Igreja omnipotente ao afirmar a infinitude e a pluralidade do universo. Francesca Y. Caroutc, especialista do Renascimento europeu, relata-nos, através deste rigoroso romance histórico, a vida de Giordano Bruno, um homem prodigioso, percursor de Galileu e íntimo de monarcas e da elite cultural da época… Fiel aos seus ideais, mártir da liberdadede pensamento, Giordano Bruno morre queimado na pira da Inquisição em 1600, na cidade de Roma “. Curiosamente foi queimado no Campo dei Fiori !
Pensamento: “ Caminhar apaga o pecado “.