22 de Setembro de 2007
Já o Sol ia alto quando o grupo de caminheiros se reuniu na Gralheira para efectuar a travessia do maior planalto montemurano: a Alagoa de D. João. Após um breafing atravessámos o casario da aldeia da Gralheira, descemos a uns prados verdejantes e passámos o ribeiro de Cabrum que mais parecia um regato tão pouco significativo era o caudal. Colhemos amoras pelo caminho e detivemo-nos no adro da igreja da Panchorra. Visitámos o interior onde admirámos o bonito lavor Barroco do arco-cruzeiro que ostenta a meio um medalhão dourado com as siglas IHS. Deixámos a aldeia e dirigimo-nos para a planura da Alagoa. Parámos num cômoro a admirar a imensidão do horizonte matizado por um tom amarelecido de outono.
Só chilrear dos pássaros quebrava o silêncio do momento. Nem uma brisa num dia de sol esplêndido. A travessia demorou cerca de uma hora. Algumas pernas mais desprotegidas foram sendo acariciadas pelas tojeiras floridas e pela aspereza da carqueja. Já à vista de Cotêlo almoçámos sob um frondoso carvalho e ao lado de uma poça de cristalina água. Iguarias e outras vitualhas menores saciaram o apetite dos participantes.
Depois de Cotêlo, dirigimo-nos para Campo Benfeito e daí até ao Rossão. Atravessámos de novo a Alagoa de Norte para Sul e chegámos à Gralheira por volta das 18H00. Haviamos percorrido terras de três concelhos: Cinfães, Resende e Castro Daire. Honrámos Serpa Pinto.
Merece destaque a passada veloz do amigo Manuel Antão José, do Fundão, que chegou com um avanço de 45m, assim se redimindo do atraso que teve na descida do Bestança em que não fora a solidária paciência do José Sampaio, aquele famigerado caminheiro teria chegado ao outro dia, qui çá. O opíparo jantar ocorreu na sede da ADVB e deveu-se ao empenho das distintas caminheiras cujo nome aqui se deixa para a posteridade e não só: Ângela Patriarca, Elizabete Almeida, Margarida Cardoso, Lucinda Resende e outras. Merece também destaque o empenho do associado Vaz Pedro, e outros, por ter assado a carne.
Por último - e os últimos são sempre os primeiros -, apareceu o amigo Napoleão, em traje abrasileirado, bem perfumado, desculpando-se por não ter ido à caminhada já que teve que fazer reportagem em diversos eventos sociais e não só, no Vale do Sousa, tendo, mesmo assim, faltado a outros tantos eventos só para estar connosco.
Sensibilizados, todos honraram a sua presença com hinos de alegria. Mais um dia bem passado, numa bonita caminhada e são convívio repleta de momentos felizes que nem o mais feroz tirano no-los consegue usurpar. Até à próxima.
Ver as fotografias.Gralheira-Panchorra-Cotelo-Campo Benfeito-Rossão-Gralheira.
Percorreremos a aldeia da Gralheira, conhecida pelo seu presunto, para chegarmos ao jovem ribeiro de Cabrum e o atravessarmos na direcção de Panchorra, já no concelho de Resende. Visitada a igreja e apreciada a vista já dilatada sobre o Douro, seguimos em direcção a um dos planaltos mais impressionantes da orografia portuguesa: a Alagoa de D. João. Amorim Girão, geógrafo viseense que dedicou uma parte da sua vida ao estudo da Serra de Montemuro diz-nos o seguinte acerca da «Alagoa» : «É uma grande área plana, de forma circular, sem afloramentos rochosos e circundada quási completamente por elevações que, do lado Sul, são importantes, atingindo alturas de 1200 a 1300 metros. Mesmo no verão tem carácter pantanoso, escoando-se a água por duas goteiras, uma a meio e outra no extremo Norte do bordo ocidental, onde começa a formar-se uma linha de água que tende a secar o pântano. Tal como se encontra, dá a ideia duma imensa tina circular, de bordas irregulares, quási cheia de terra molhada». Pela alagoa fez Eça de Queirós passar o Padre Amaro: «Montara a cavalo e trotara duas horas, pelos barreiros de D. João, para ir à Gralheira confessar-se ao bom abade Sequeira...», a quem o mesmo autor imputou o cargo de pároco do Feirão, no vizinho município de Resende. De resto não só Eça imortalizou a Gralheira, e outras aldeias dos planaltos do Montemuro. Aquilino Ribeiro descreve a serra em breves relances e Abel Botelho, escritor, natural de Tabuaço, casado com uma senhora da nobreza cinfanense, enquanto militar do Exército Português calcorreou a serra e dedicou-lhe um romance - a Fritada -, cuja acção se desenrola entre Aveloso, na freguesia de Tendais e a cidade de Lamego. Este autor, ao referir-se à árdua caminhada de duas personagens pelo terreno «alagadiço e mole» da Alagoa, refere que «toda a vasta serrania que de Bustelo se dilata para leste a Montemuro e à Gralheira e a Feirão, de ordinário tão tristonha e despovoada, a ponto de se percorrerem nela 18 a 20 quilómetros sem que que se encontre o mínimo vestígio de habitação humana». Discordamos do adjectivo tristonha, que de modo algum caracteriza a paisagem a apreciar. E muito embora contemos percorrer um longo percurso sem vislumbrar viv'alma, vamos atravessar as típicas aldeias de Cotelo, Campo Benfeito e Rossão (na freguesia de Gosende, concelho de Castro Daire), avistando, não longe, as encostas da Meadas, sobre Lamego, e as povoações de Feirão, Bigorne, etc.Por tudo isto, pelo sabor da descoberta de um local tão «literário» como desconhecido, e pela paisagem que em breve deixará de ser a mesma - devido à construção de um imenso parque eólico - vale a pena esta travessia.
Siga até Cinfães pela A4, saindo no Marco de Canaveses e aí tomando a estrada municipal 584 até Penhalonga, virando aí à esquerda pela N 108 até encontrar a indicação Barragem de Carrapatelo e Cinfães. Uma vez na vila de Cinfães segue a E 321 direcção de Castro Daire até encontrar a placa indicando Granja e Soutelo. Passa a primeira e segue até chegar a um entrocamento onde vira à direita, passando a aldeia de Vila Boa de Cima. Um pouco mais à frente encontra placa que indica a direcção da Gralheira.
Segue pela IP3 até Viseu e depois toma a A24 na direcção de Vila Real. Sai em Castro Daire Norte/Cinfães, tomando, por breves metros, a EN2 (direcção Cinfães) e seguindo a N321. Poucos quilómetros à frente (antes da aldeia de Carvalhosa) encontra a placa que indica ROSSÃO entre outras e GRALHEIRA. No cruzamento vira à esquerda e segue as restantes indicações até encontrar a Gralheira.