Edição de 2 de Agosto de 2002  
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Cinfães do Douro: Bestança não quer barragem à porta

Associação local de defesa do património contesta a construção de mini-hídrica e agricultores afirmam que os campos podem secar

MANUEL VITORINO

A anunciada construção de uma barragem no rio Bestança, em Cinfães do Douro, trouxe à superfície um caudal enorme de protestos e, tanto a Junta de Freguesia local como a Câmara Municipal, estão contra o projecto. A contestação já galgou as margens do concelho.

É num vale integrado na Rede Natura 2000 que a Hidroerg-Projectos Energéticos, Lda., de Lisboa, pretende levar avante a construção de uma mini-hídrica, cujos açudes de betão, com oito metros de altura, canais de derivação, condutas de aço, central hidro-eléctrica e turbinas poderão pôr em causa o ambiente e a biodiversidade.
O empreendimento é tema de conversa. «A barragem vai secar os campos e causar a morte da agricultura. Por isso, não vamos permitir semelhante agressão ambiental», referiu Adelino Teles, presidente da Junta de Freguesia de Tendais.

Alterações ambientais
O advogado Jorge Ventura, presidente da Associação para a Defesa do Vale de Bestança e investigador do património local, não tem dúvidas em afirmar que a barragem provocará alterações nos ecossistemas aquáticos e causará o desaparecimento de algumas espécies protegidas, como a lontra.
«O Ministério do Ambiente terá de chumbar o projecto. A barragem fica situada junto a uma ponte medieval e em fase de classificação como monumento de interesse público. O projecto apenas é lucrativo para alguns», afirmou.
Num longo e exaustivo dossiê, entregue pela Associação de Defesa do Vale do Bestança à Direcção Regional do Norte do Ambiente e Ordenamento do Território, formulam-se dúvidas e interrogações quanto à qualidade científica dos projectos.
«Os estudos revelam a inexistência de um trabalho de campo aprofundado, pois não há dados sobre a geologia e geomorfologia, isto é, não há reconhecimento local dos elementos a considerar, bem como o impacto da construção na fauna e flora locais», sustentam os contestatários do projecto.

Atentado ecológico
O juiz-desembargador Fernando de Oliveira Vasconcelos tem a mesma opinião. «A barragem não vai trazer riqueza à população local e não será geradora de desenvolvimento. Tal como está concebida, é uma aberração e representa um atentado ecológico», sustentou.
Em declarações prestadas ao JN, aquele magistrado sente-se magoado pela maneira como o processo está a ser conduzido, mas acredita que o bom senso chegará e que a contestação popular obrigará os responsáveis a reverem a projectada barragem.
«Nem quero imaginar a movimentação de terras, a abertura de canais de derivação, colocação de postes de média tensão e diminuição do caudal das águas do rio», referiu Fernando de Oliveira Vasconcelos.
Neste espaço marcado pela ruralidade e preservação de alguns usos e costumes, a Câmara Municipal de Cinfães do Douro e a Associação para a Defesa do Vale do Bestança têm um projecto comum destinado a promover o turismo rural e pedestre, bem como à requalificação do património local.
«A região possui grande riqueza patrimonial. Em muitas aldeias do concelho ainda existem diversos moinhos que deviam ser protegidos e recuperados. Por isso, não vamos permitir a construção de uma barragem que pode destruir o sonho de várias gerações», concluiu
Jorge Ventura.
O JN tentou, sem sucesso, ouvir a posição da empresa construtora sobre esta polémica.


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