http://jn.sapo.pt/2005/04/05/pais/riqueza_vale_bestanca_ameacada_minih.html
Riqueza do vale do Bestança ameaçada por mini-hídricas
PAtrimÓnio Associação local promove encontro sobre a importância de um rio integrado   na Rede Natura 2000 Estudantes da Escola Profissional foram chamados a participar no evento 
Artur machado
As pontes históricas sobre o vale do rio Bestança fazem parte do património e da cultura locais


Manuel Vitorino

Contribuir para a preservação dos ecossistemas. E lembrar a importância do património local de grande valor paisagístico. Será o duplo objectivo das primeiras Jornadas Ambientais do vale do Bestança, a realizar no próximo fim-de-semana. Como pano de fundo das preocupações, continua a anunciada construção de duas mini-hídricas neste vale integrado na Rede Natura 2000, uma área rica pela sua biodiversidade.

"O desenvolvimento do concelho de Cinfães só será possível se for efectuado de uma forma integrada e com respeito pelos pelos valores ambientais", afirmou, ao JN, o advogado Jorge Ventura, presidente da Associação para a Defesa do Vale do Bestança, um organismo que, há 12 anos, tem efectuado diversas acções de sensiblização e chamado a atenção dos poderes públicos para a salvaguarda da fauna e da flora locais.

Quanto à importância do debate, Jorge Ventura considera-o "fundamental" e, ao mesmo tempo, uma forma de lembrar a existência de um dos rios mais limpos da Europa "O vale do Bestança exige de todos e de cada um de nós uma atenção especial. Por isso, procuramos envolver a população e os estudantes das escolas a conhecer e a estudar a sua biodiversidade local. O vale é uma aula viva de história natural", assegurou.

Uma vez que, para já, a hipótese de construção de duas barragens continuam em "banho-maria", o dirigente lembra a luta travada pela Associação do vale do Bestança e Câmara de Cinfães, na preservação e salvaguarda do desenvolvimento da região. "A produção de energias renováveis é um objectivo estratégico, mas não pode ser efectuada à custa da destruição da nossa riqueza natural", lembrou Jorge Ventura.

No decorrer das jornadas, que decorrerão, entre sexta-feira e sábado, na Casa de Cultura de Cinfães do Douro, será lançado o boletim cultural "Prado", destinado a testemunhar a dimensão histórica, arqueológica, etnográfica e ambiental do Bestança.

"A publicação é uma chamada de atenção para o rio, mas também, para os moinhos, açudes, pontes e vivências culturais das gentes da terra. Em síntese, da cultura de um povo com grande sabedoria", concluiu.

Paralelamente, será exposta uma selecção dos trabalhos efectuados pelos alunos da Escola Profissional de Cinfães e que participaram no concurso subordinado ao tema "O Ambiente em Cinfães".

As Jornadas Ambientais do vale do Bestança têm o apoio da Câmara Municipal de Cinfães do Douro.


Debates alertam consciências

"O Ambiente e o Ensino" será um dos temas da sessão inaugural das jornadas. Será orador Serafim Rodrigues, director da Escola Profissional de Cinfães. Segue-se outra palestra intitulada "Energias sem fim... para um futuro sustentável", pelo professor António Eloy, cujo debate será moderado pelo desembargador Fernando Vasconcelos. No segundo dia, sábado, o programa prevê intervenções do presidente da Câmara Municipal de Cinfães do Douro e da Associação, respectivamente, José Manuel Pereira Pinto e Jorge Ventura. Estão, ainda, previstas alocuções de José Manuel Barbosa que abordará o tema "A água um recurso (in)esgotável" e do fotógrafo Rui Cunha, sobre "O valor da paisagem". O rio Bestança tem 13,5 quilómetros. Nasce na serra de Montemuro e desagua em Porto Antigo, na margem esquerda do rio Douro.