14 de Fevereiro de 2009
A manhã anunciou-se sob um espesso manto de nevoeiro que se foi desvanecendo trespassado pelos luminosos raios solares. A chamada para o percurso épico da linha do Tua foi efectuada pelo José Sampaio. O tempo urgia: havia que fazer 28 Km a pé.
Empreendemos a viagem às 9H30. Volvidas algumas centenas de metros eis que nos apareceu defronte o rio Tua, tumultuoso nesta época do ano. Vencer a primeira ponte férrea e o túnel sequente não foi desafio para todos, pois que, logo ali, uns quantos desistiram dominados pelas vertigens. Caminhar pelas travessas e pelo balastro, no meio de vestígios que começam a pertencer à arqueologia industrial, é para uns soberbo e para outros cansativo, mas o espírito de grupo e a grandiosidade da paisagem suplantou as dificuldades. A arriba ciclópica e abismo medonho encontravam-se com frequência ao nosso lado durante o trajecto. Os apeadeiros estão, ainda, asseados, mas a linha carece de muita manutenção, sendo deplorável que esteja quase ao abandono.
A primeira paragem fez-se na estação de Santa Luzia. Cada um puxou da sua merenda e, compartilhando-a com os demais, saboreou-se o melhor dos petiscos. A paisagem bonita, o fragor das águas do Tua, o dia soalheiro e a boa disposição do grupo ( 44 participantes ) tornou o almoço inesquecível. Mas depressa retomámos a caminhada. Ainda havia muitos quilómetros pela frente. O grupo foi-se fraccionando e a distância temporal entre o primeiro e o último acentuou-se, somando no final mais de uma hora.
Pela linha, sempre deserta, só a raposa havia deixado a sua marca com restos onde se podia ver que a sua dieta na noite anterior não tinha ido além de umas quantas bagas. Até para este arguto animal a vida não vai fácil nos tempos que correm. No céu azul lá cruzavam, de tempos a tempos, os galeirões e uma ou outra garça pasmos de tão afoitos caminheiros. Da margem direita uns lavradores lançaram uns piropos que ecoaram no vale escarpado. Talvez a mofarem de uns quantos que desistiram e regressaram de carro ao ponto de partida. Compromissos ditados pelo estafado Dia dos Namorados obrigaram uns quantos bravos a desculparem-se com a dureza da caminhada. Enfim, “noblesse oblige”.
Na Brunheda, um apeadeiro que já conheceu melhores dias, encontrámos um residente que deixou transparecer no olhar uma tristeza amarga pela desactivação da linha. Mais angústia acresceu quando lhe perguntámos se gostaria de ver outra vez o comboio a passar por aqueles carris. “ Gostava, mas não acredito”, foi a resposta desalentada. Os últimos três quilómetros até Abreiro foram feitos por uma parte do grupo já com noite cerrada. Os riscos aumentaram pois que a meio da linha apareciam buracos por falta de travessas, o que anunciava riscos de acidentes. Nada ocorreu de mau, porém. Tomámos o autocarro e, depois de uma hora de viagem, estávamos de regresso à Casa do Tua. À nossa espera, um banho quente ( para quem aí pernoitou ).
Uma palavra de justiça para esta unidade hoteleira, e para a sua gerência, que nos recebeu com muita hospitalidade, fazendo-nos sentir em casa e atendendo a todos com a maior simpatia. O jantar foi opíparo e decorreu num ambiente acolhedor. Já o pequeno almoço havia sido muito bom, recheado de produtos deliciosos produtos caseiros como compotas e sumo de laranja natural. Enfim, memorável. Fantástico também todo o trabalho de organização do nosso associado e amigo José Sampaio. Sem ele, esta jornada não teria sido possível e não teríamos, todos, estas recordações belíssimas de um dia bem passado.
Quanto à construção da barragem na foz do Tua, é adversa, frontalmente adversa a posição da Associação para a Defesa do Vale do Bestança solidarizando-se a nossa colectividade com as posições da Câmara Municipal de Mirandela, da Coagert e o MCLT. A riqueza patrimonial, paisagística e ambiental do vale do Tua, e o seu potencial turístico, valem bem mais que uma barragem.
Ficam as fotografias. Também elas valem bem mais que estas bem intencionadas palavras.
Vamos percorrer a via férrea entre as Estações do Tua e Abreiro.
São 28 Kms de alguma dureza para o corpo, mas simultaneamente reconfortantes para o espírito. A paisagem, selvagem e agreste, temperada com as águas do Tua, fazem deste traçado um traçado espectacular.
A Linha do Tua, é considerada a mais bela via férrea portuguesa. O troço entre o Tua e Mirandela ( 55 km ) tem sido considerado um dos mais belos trajectos ferroviários de montanha do mundo.
Perante a ameaça de desactivação da linha e da sua submersão numa extensão de 14 Kms., ( entre a Estação do Tua e a Estação de Santa Luzia ) em consequência do projecto em curso para a construção da barragem do Tua, esta é uma caminhada a não perder!
INSCRIÇÕES LIMITADAS e sujeitas a confirmação até ao dia 12 de Fevereiro.
Veja o registo da Caminhada no Alto Douro em 2004.
Km | Estações / Apeadeiros |
---|---|
0 | Estação do Tua |
4 | Tralhariz |
7 | Castanheiro |
14 | Santa Luzia - Estação |
16 | São Lourenço |
18 | Tralhão |
21 | Local onde ocorreu o acidente de 22.08.2008 |
22 | Brunheda ( estação despromovida ) |
25 | Codeçais |
28 | Estação de Abreiro |
Km | Pontes/Viadutos | Túneis |
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1 | Presas | Presas |
4 | - | Tralhariz |
6 | Fragas Más – Viaduto | Fragas Más I |
- | - | Fragas Más II |
9 | - | Falcoeira |
10 | Paradela | |
26 | Cabreira | |
28 | Vieiro |
Informações / Inscrições: 917535075 José Sampaio; 917619080 Vaz Pedro; 968013140 Jorge Ventura.
Inscrição: € 5,00
Unidades mais próximas para quem opte por pernoitar de 13.02 ( Sexta ) para 14.02 ( Sábado ).
CASA DO TUA - Estabelecimento Hoteleiro
Unidade reservada na totalidade e à condição.
As reservas só serão efectivas ( até ao limite da capacidade da unidade ) mediante contacto a efectuar pelos interessados.
Importante:
Para efeitos de reserva, ao contactar a Casa do Tua, deverá referir que faz parte do grupo de caminheiros da Associação para a Defesa do Vale do Bestança.
HOTEL QUINTA DA SEIXEDA
Pequeno almoço incluído. Preços acordados entre a organização e a unidade.
As reservas só serão efectivas ( até ao limite da capacidade da unidade ) mediante contacto a efectuar pelos interessados.
Para efeitos de reserva, ao contactar o Hotel Quinta da Seixeda, deverá referir que faz parte do grupo de caminheiros da Associação para a Defesa do Vale do Bestança.
Kms a percorrer | ||
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Porto - Tua | 148 Kms | 2h06 |
Coimbra - Tua | 205 Kms | 3h17 |
Cinfães - Tua | 120 Kms | 2h04 |
Viseu - Tua | 122 Kms | 1h55 |
Braga - Tua | 161 Kms | 2h00 |
Viana - Tua | 216 Kms | 2h29 |
Alijó -Tua | 13 Kms | 0h16 |
Vila Real – Tua | 56 Kms | 0h57 |
Maquinistas.org: Desleixo e incúria na linha do Tua