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Associação para a Defesa do Vale do Bestança
   

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Construção de mini-hídrica no rio Bestança gera Polémica
In Diário Regional de Viseu 20 de Maio de 2002


A construção de uma mini-hídrica no rio Bestança e na ribeira de Tendais, no concelho de Cinfães, está a preocupar as populações ribeirinhas, que temem os impactos ambientais provocados pelo projecto.

O inquérito público sobre a construção da mini-hídrica no Vale do Bestança, da responsabilidade da empresa “Hidroerg - projectos energéticos”, teve início a 09 de Maio e decorrerá durante 30 dias úteis. Este assunto domina hoje a reunião do executivo camarário cinfanense.

«Já em 1993 houve empresas que apresentaram projectos idênticos para o rio, mas na altura a Câmara foi contra e, como o seu parecer era vinculativo, não avançaram», afirmou à Agência Lusa Jorge Ventura, presidente da Associação para a Defesa do Vale do Bestança, criada nesse ano com o objectivo principal de «impedir a implementação de mini hídricas ao longo do rio».

No entanto, actualmente «se o ministério do Ambiente decretar o interesse público da obra a Câmara não tem como se impor» - explicou - e, por isso, a associação apela aos seus associados e à população para que se unam em defesa do Vale do Bestança.

A associação insurge-se contra o projecto - que inclui dois açudes de betão e uma central de turbinagem para produção de energia eléctrica - porque «teria impactos ambientais muito negativos e traria prejuízos para a agricultura» do Vale do Bestança, que está incluído na Rede Natura 2000. Por um lado, espécies como a lontra, truta e ginetes dependem do equilíbrio ecológico do rio, e por outro, os lameiros precisam de rega permanente.

«No Verão, nos cerca de dois quilómetros e meio do canal de derivação do Bestança, o rio ficará praticamente seco, não haverá água para turbinar. O canal vai roubar toda a água que escorre das vertentes e do meio da encosta para baixo ficará tudo seco», alertou.

Na perspectiva de Jorge Ventura, a construção da mini hídrica iria também contra os projectos existentes ao nível do turismo para o Vale do Bestança, nomeadamente a organização de percursos pedestres e a recuperação dos moinhos e das pontes de madeira existentes. «É um terreno com património edificado genuíno, que a Câmara também quer preservar para apostar no turismo. Com a construção da mini-hídrica, ficávamos sem nada para oferecer. A obra é inconciliável com o turismo», frisou.

O facto de ser um investimento acessível e de trazer «um rendimento chorudo», porque o caudal do rio é muito forte no Inverno devido ao degelo da Serra do Montemuro, são, na sua opinião, os motivos que tornam a construção da mini-hídrica tão apetecível para as empresas.
Segundo Jorge Ventura, a luta da associação contra o projectos é apoiada «pelas populações das seis freguesias do Vale do Bestença». António Leitão, gerente da “Hidroerg - projecto energéticos”, assegurou à Lusa que os impactos da mini-hídrica «são mínimos», até porque os açudes previstos são de pequenas dimensões, «têm apenas cerca de 2,5 metros de altura».
«Com essa dimensão, a perturbação que irá provocar no ecossistema aquático e ribeirinho não pode ser grande», frisou António Leitão, acrescentando que quando terminar o prazo de inquérito público será feito um estudo ambiental do projecto.

Para já, adianta que os dois açudes - um a construir no rio Bestança e outro na Ribeira de Tendais - foram projectados «de forma a que todas as espécies os possam transpor».

O responsável da “Hidroerg” salientou que o facto de o projecto ter um parecer favorável do Instituto de Conservação da Natureza, «feroz defensor da biodiversidade», é a prova de que não vai contra o ambiente.

A concretizar-se, a mini-hídrica terá três megawatts de potência instalada e produzirá 10,8 gigawatts hora por ano, garantindo António Leitão que «será deixado um caudal ecológico, como obriga a lei».

Para além da vantagem das energias renováveis, lembra que a construção da mini-hídrica irá trazer benefícios económicos para as populações, funcionando como pólo de desenvolvimento local.

O Rio Bestança, que tem 13,5 quilómetros de curso, nasce na serra do Montemuro, no concelho de Cinfães, e desagua no Rio Douro.