Construção
de Mini-hídrica no Rio Bestança Gera Preocupação
In Público 21 de Maio de 2002
A
construção de uma mini-hídrica no
rio Bestança e na ribeira de Tendais, no concelho
de Cinfães, está a preocupar as populações
ribeirinhas, que temem os impactes ambientais provocados
pelo projecto. O inquérito público sobre
a construção da mini-hídrica no Vale
do Bestança, da responsabilidade da empresa Hidroerg
- Projectos Energéticos", teve início
a 9 de Maio e decorrerá durante 30 dias úteis.
"Já em 1993, houve empresas que apresentaram
projectos idênticos para o rio, mas na altura a
câmara foi contra e, como o seu parecer era vinculativo,
não avançaram", afirmou à agência
Lusa Jorge Ventura, presidente da Associação
para a Defesa do Vale do Bestança, criada nesse
ano com o objectivo principal de "impedir a implementação
de mini-hídricas ao longo do rio". No entanto,
actualmente, "se o Ministério do Ambiente
decretar o interesse público da obra, a câmara
não tem como se impor" - explicou - e, por
isso, a associação apela aos seus associados
e à população para que se unam em
defesa do Vale do Bestança.
A associação insurge-se contra o projecto
- que inclui dois açudes de betão e uma
central de turbinagem para produção de energia
eléctrica - porque "teria impactes ambientais
muito negativos e traria prejuízos para a agricultura"
do Vale do Bestança, que está incluído
na Rede Natura 2000. Por um lado, espécies como
a lontra, truta e ginetes dependem do equilíbrio
ecológico do rio, e, por outro, os lameiros precisam
de rega permanente. "No Verão, nos cerca de
dois quilómetros e meio do canal de derivação
do Bestança, o rio ficará praticamente seco,
não haverá água para turbinar. O
canal vai roubar toda a água que escorre das vertentes
e do meio da encosta para baixo ficará tudo seco",
alertou Jorge Ventura.
Na perspectiva do presidente da associação,
a construção da mini-hídrica iria
também contra os projectos existentes ao nível
do turismo para o Vale do Bestança, nomeadamente
a organização de percursos pedestres e a
recuperação dos moinhos e das pontes de
madeira existentes. "É um terreno com património
edificado genuíno, que a câmara também
quer preservar para apostar no turismo. Com a construção
da mini-hídrica, ficávamos sem nada para
oferecer. A obra é inconciliável com o turismo",
frisou.
António Leitão, gerente da Hidroerg - Projecto
Energéticos, assegurou à Lusa que os impactes
da mini- hídrica "são mínimos",
até porque os açudes previstos são
de pequenas dimensões. "Têm apenas cerca
de 2,5 metros de altura. Com essa dimensão, a perturbação
que irá provocar no ecossistema aquático
e ribeirinho não pode ser grande", frisou
o empresário, acrescentando que, quando terminar
o prazo de inquérito público, será
feito um estudo ambiental do projecto. Para já,
adianta que os dois açudes - um a construir no
rio Bestança e outro na ribeira de Tendais - foram
projectados "de forma a que todas as espécies
os possam transpor".
O responsável da Hidroerg salientou que o facto
de o projecto ter um parecer favorável do Instituto
de Conservação da Natureza, "feroz
defensor da biodiversidade", é a prova de
que não vai contra o ambiente.